Emilio Pucci: Sua História e a quebra padrões na alta-costura
Na história da alta costura, poucos foram os estilistas que entraram para o rol da fama através de criações de estampas, e Emilio Pucci definitivamente foi um deles.
Com estampas extremamente extravagantes e multicoloridas, elas demonstram o verdadeiro estilo de vida italiano. A marca Emilio Pucci, que fora criada por um marquês alfaiate de mesmo nome que hoje veste altas celebridades como Victoria Beckham, Kylie Minogue e Elizabeth Hurley é um verdadeiro símbolo de luxo e sofisticação há mais de sete décadas seguidas.
A história de Emilio Pucci
Para quem ainda não conhece sua história, parece uma verdadeiro conto de fadas de trás pra frente: Começamos com um marquês e terminamos com um alfaiate.
Ele nasceu na pacata cidade de Nápoles, em 20 de novembro de 1914 e tinha o título de Marquês de Barsento. Tudo isso devido a sua árvore genealógica, já que seu pai Orazio Pucci (cuja a origem era russa) e sua mãe, a Condessa napolitana Anguste Pavoncelli pertenciam a mais alta classe italiana, ambos vindo de famílias aristocráticas e renomadas.
Então, Pucci nasceu e viveu durante muito tempo no coração de Florença, num palácio cujo as paredes ostentavam grandes obras de arte de Leonardo Da Vinci, Sandro Botticelli e Donatello… local esse que posteriormente, seria palco de seus desfiles e se tornaria um verdadeiro símbolo da grife que leva o seu nome.
Entre os anos de 1935 e 1937, fez o curso de sociologia, nos Estados Unidos e em 1938, o jovem se alistou para entrar para a força armada aérea italiana, atuando como piloto e chegou a combater, por seu país, na Segunda Guerra Mundial.
O início da Emílio Pucci como marca
Completamente apaixonado por esportes, Pucci praticava todo e quanto é tipo: natação, esgrima, tênis e esqui.
A sua carreira pelo mundo da moda começou “sem querer”, quando ele ainda era piloto na aeronáutica italiana.
Preocupado com a imagem e a reputação que tinha a zelar, o seu relacionamento com a moda começou quando ele desenhou seus próprios modelos de roupa.
Um belo dia, chegou a oferecer a uma amiga um traje de esqui que havia idealizado: uma calça comprida, levemente ajustada na cintura, um pulôver, uma camisa e para finalizar, um casaco desenhado como uma parca que tinha um capuz, somados a um bolso frontal, fechados por zípers. Até aqui, tudo bem…
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A história resolveu mudar quando uma fotógrafa americana, Toni Frissell, que trabalhava de forma regular para a renovada revista Harper’s Bazaar, se entusiasmou com aquele traje esportivo de luxo, coisa que até então, não conseguia se encontrar pelo mercado.
Por sorte do destino, essas fotografias (do traje esportivo de luxo) acabaram nas mãos de ninguém menos que Diane Vreeland, editora chefe da Harper’s, que em dezembro de 47, publicou seu primeiro artigo falando sobre as criações feitas por Pucci, com um título muito forte: An Italian Skier Designs.
Pode-se apontar aqui, nesse exato momento, o divisor de águas na vida de Pucci: o sucesso, finalmente veio bater à sua porta.
Depois de uma grande promoção de suas peças, Emilio lançou em 1948 sua primeira coleção, que embora tivessem poucas peças (um único traje de esqui composto por duas peças de gabardine azul, uma calça de esqui bege que era feita no mesmo tecido e duas camisas masculinas de popeline de algodão e três túnicas feitas no tricô de lã), fora vendida prontamente para duas tradicionais lojas de departamentos, que ficavam localizadas na famosa 5ª avenida em Nova Yourk, a White Stag e a Lord & Taylor.
Muito embora seus primeiros trabalhos fossem mais modestos, lhe abriu os olhos para aquilo que ele precisava aprimorar e acabou lhe dando maior consciência de seu verdadeiro talento, permitindo assim que o mesmo fosse trabalhar sua potencialidade criativa.
Com a fama batendo-lhe a porta, Pucci conseguiu se associar a diversas indústrias do setor têxtil de seu país, já que sua fama se propagou rapidamente. Assim, passou a desenvolver tinturas inéditas em tons jamais vistos! Além disso, desenvolveu técnicas específicas de trabalho com seda e algodão, que lhe renderam a verdadeira fama até o fim de sua carreira.
O estilo Pucci
Devido ao estrondoso sucesso, Pucci pediu licença da aeronáutica e viajou para a belíssima Capri, cidade que fica ao extremo sul da Itália.
Lá criou sua segunda coleção: uma linha de maiôs e roupas esportivas que poderiam ser usadas durante o dia todo, sem o menor problema. O sucesso foi imediato!
A cidade conseguiu influenciar Pucci nas tones, texturas e tons. Sob o pretexto de criar uma coleção para sua namorada na época, ele criou uma nova coleção repleta de frescor, com modelagens mais livres e menos estruturadas rigidamente, o que foi prontamente copiado por todas as mulheres de Capri, Cote D’azuu e Portofino, sem contar nas praias mediterrâneas.
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E foi aqui, nesse exato momento que Pucci apresentou ao mundo a famosa calça Capri, que consumimos até os dias de hoje. Assim, ele criou um estilo único e valorizado por muitos.
Em síntese, podemos dizer que Capri foi a responsável pelo refinamento e deu vida, espírito para a moda de Pucci, o chamado “Estilo Pucci”.
A primeira loja de Emilio Pucci
Nos anos 50, Emilio pediu afastamento definitivo da carreira militar e abriu sua primeira loja própria: La Canzone del Mare e com ela, nasceu a grife que seria sinônimo de inovação e sucesso até os dias de hoje, a Grife Emilio Pucci.
A produção de suas peças tinham características peculiares: eram sempre poucas peças, elaboradas a mão, possuindo modelagem simples e preços competitivos, sendo esse um fator essencial para a sua fama no início dessa nova jornada. Em sua grande maioria, os vestidos Pucci eram de jérsei de seda, dando um acabamento impecável e leve, sem rugas e muito, mais muito confortável.
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Em 1954, Emilio Pucci recebeu o prêmio Neiman Marcus Award, um dos prêmios mais importantes a ser entregue ao mercado da moda. Emilio recebeu esse prêmio, sendo destacado sua originalidade e sua criatividade.
Em 1959, casou-se com a Baronesa Cristina Nannini e para conseguir atender a demanda de pedidos de suas roupas, acabou inaugurando sua segunda loja, no segundo andar de seu Palácio em Florença. Lá funcionava como uma espécie de escritório de estilo, onde ele passou a criar suas estampas e coleções, negociava suas vendas e também, realizava seus desfiles de moda.
Muito embora ele se autodenomina-se artesão, Emilio, nesse momento de sua vida, passou a trabalhar mais com as metodologias de design, que comprovaram, posteriormente, que ele estava muito mais além do que simplesmente satisfazer seus gostos pessoais.
Com a abertura do seu escritório, passou a dirigir pessoalmente a elaboração de todos os detalhes e desenhos de suas peças, dando conta do contato com os fornecedores e com seus clientes. Sua fama fora tomando proporções inimagináveis e Pucci passou a ser reconhecido mundialmente.
As peças que compõe o estilo Pucci
Calças afuniladas, calças capri, shorts, blusas de seda, vestidos incríveis e roupas casuais: tudo virou objeto de desejo feminino, desde que fossem criadas por Emilio Pucci. Em questão de meses, o estilo Emilio Pucci estava nas mais importantes lojas de departamento dos Estados Unidos.
Suas criações faziam parte do guarda-roupa de grandes celebridades, como Merilyn Monroe, Audrey Hepburn, Liz Taylor e Lauren Bacall.
Um verdadeiro admirador da feminilidade e inovador por natureza, acabou introduzindo ao mercado uma série de pequenas transformações (e grande também), que foram muito além de suas estampas, atribuindo-lhe o título de O Príncipe das Estampas.
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Emilio Pucci – O príncipe das Estampas
Emilio patenteou diversos tecidos criados por ele, ou seja, tecidos inéditos no mundo da moda, como o jérsei de seda e o famoso emilioform (que é um tecido composto por 45% de xantungue de seda e 55% de náilon).
O conjunto de cores utilizada por ele (cores puras, sempre vibrantes, em sua grande maioria, primárias ou naturais), o seu gosto refinado para a abstração artística e a escolha das formas que, geralmente, não representavam figuras, a organização modular de escalas cromáticas e a orquestração de linhas curvas ou retas parecem ser derivadas de uma síntese geométrica muito utilizada pelos pintores renascentistas.
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Fora as estampas incríveis e suas cores extravagantes, a marca também ficou conhecida através dos bordados marcantes, a seda (material que o estilista gostava muito de trabalhar) onde ele imprimia suas estampas e criações não estruturadas que valorizavam a beleza feminina. Por fim, mas não menos importante, outro fator que nos chama a atenção é impressão da assinatura à mão de Emilio em todas as suas estampas.
Criação de Lingerie Pucci
Nos anos 60, ele assinou contrato com uma empresa de Chicago para desenvolver uma linha de Lingerie. Ele fora aconselhado pelo Ateliê em Roma.
Virou um grande sucesso, principalmente devido a peça Viva Panty. É importante frisar que nesse período na história da moda, o corpo da mulher estava enterrado em corpetes que apertavam de vez as cinturas e jogavam para cima os seios, tudo conforme os ditames da alta costura na época.
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Com uma harmonia muito mais leve, as peças produzidas por ele vinham desprovidas dessa armação toda! O Viva Panty era um body de seda strecht que em nada comprimia e muito menos levantava os seios femininos, mas deixava uma agradável sensação de liberdade e uma nudez natural do corpo. Depois disso, nasceu toda a linha de lingerie que, inclusive, levou suas estampas marcantes com ela.
Pucci lança coleção para a casa
No ano de 1961, a marca renomada desenhou para Rosenthal sua primeira coleção de porcelanas para mesa, ingressando pela primeira vez num mercado que não a alta costura.
Pucci quebra padrões na Alta-Costura
Nos anos de 1962, o estilista lançou pela primeira vez na Alta-Costura uma coleção que fora idealizada e pensada em mulheres de ombros e quadris estreitos, seios pequenos e pernas compridas, cujo o retrato imprimia fielmente a primeira dama americana Jacqueline Kennedy.
Depois disso, dois anos após, ele resolveu lançar uma linha dedicada a África, como forma de protestar frente ao governo Norte-Americano mediante o racismo que estava evidenciado naquela época. Além das estampas estarem inspiradas em sua cultura, ele chamou modelos negras para desfilar.
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O sucesso foi estrondoso! Tanto que em 1965, a grife lançou um guarda-roupas completo para aeromoças da companhia área Braniff International Airways, que muito embora tenha encerrado suas atividades em 1982, até os dias de hoje é lembradas por todos devido aos seus uniformes coloridos e alegres.
Em 1996, lançou a coleção Vivara, ilha muito próxima a Capri. Essa coleção constituiu a síntese gráfica mais abstrata até então utilizada opr Pucci e por isso que é lembrada como a coleção mais memorável do estilista. Nessa mesma época, ela lançou seu primeiro perfume Vivara, inspirado também em sua coleção. Veja a chamada:
Em 1969, por iniciativa de uma empresa argentina, o estilista lançou 12 tapetes, cujo os protótipos você encontra para visitação até os dias de hoje no Museu Nacional da Arte Decorativa de Buenos Aires.
Em 1971, a NASA encarregou o nobre estilista a criar o logotipo da missão espacial Apollo 15, aquela que levou o homem a pisar pela primeira vez na lua.
Além disso, em 77, ele fora o grande responsável pelo desenho do interior do Lincoln Continental, um dos principais carros que compõe a cultura norte-americana.
Coleção de óculos Emilio Pucci
Ele trouxe um estilo irreverente nas suas armações, colocando suas preciosos estampas a jogo, trazendo alegria e sofisticação.
Os óculos Emilio Pucci são surpreendentes e trazem a marca registrada da empresa. São estampas incríveis e atemporais, podendo ser usados em qualquer ocasião.
São luxuosos e seguem as cores e formas das coleções. O destaque maior das armações fica por conta das padronagens que foram desfiladas nas coleções de roupa da Maison.
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As armações de grau e de sol traduzem perfeitamente o estilo da marca além de serem exclusivos com detalhes invididuais em cada peça
Na visão de Pucci, os óculos deixam de ser um acessório básico e passam a ser uma peça de luxo e sofisticação.
A retirada do mercado
Depois de muitas décadas de total auge, Pucci viveu um período um pouco menos vibrante entre os anos 70 e 80. Um dos principais motivos fora a recusa do mesmo de descentralizar sua produção. Outro fator que ele não observara era o rumo social em que o mundo estava migrando: mulheres saindo de suas casas e indo para o mercado de trabalho, altamente competitivo.
Estas, estavam muito longe de seu padrão de feminilidade. Certa vez, nessa época, o estilista disse:
“Nasci alfaiate e considero-me como tal. Meu trabalho é o trabalho de um artesão cujos objetivos são a qualidade e o estilo”
Então, dessa maneira, ele começa a se retirar do mercado de modo progressivo, até encerrar suas atividades em 1989.
O engraçado é que, nesse mesmo período, sua marca viveu um período de grande ascensão, chamada de Puccimania, graças aos estilistas Giani Versace e Moshino, que mostram em suas coleções as influências vivenciadas e aprendidas pelo Príncipe das Texturas.
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Outras personalidades embarcaram nesse resgate a moda, como a designer Paloma Picasso, Top Model Claudia Schiffer, a cantora Madonna e a atriz Isabella Rossellini.
De volta aos holofotes da moda
Em 1990, Laudomia Pucci assumiu a direção da empresa, já que seu irmão mais velho, Alessandro Pucci veio a falecer num acidente de carro e seu pai, Emilio Pucci morreu no dia 29 de novembro de 1992.
Não se pode negar que o legado deixado por Emilio reflete até os dias de hoje. Os vestidos clássicos elaborados pelo estilista são saem nunca de moda.
Nos anos 2000, o conglomerado francês LVMH (proprietário de marcas renomadas como Louis Vuitton, Fendi e Givenchy) adquiriu a maioria das ações a Pucci. Nos anos que se seguiram, se iniciou um processo de renovação da marca.
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Mas a volta por cima fora dada após a contratação do francês Christian Lacroix, que em apenas três anos como diretor criativo, fez o nome de Emilio Pucci entrar novamente para o rol da Alta-Costura, participando do competitivo e acirrado Desfile de Milão.
O francês mergulho de cabeça nas referências deixadas na origem da marca e trouxe de volta as estampas com cores alegres e vibrantes. Brincou também com modelos que remetem a roupa da esqui, aquela mesma que começou a história toda e deu a fama a Pucci. Tudo isso sem abrir mão do muito colorido que se via naquela época.
Pucci Inaugura loja no Brasil
Com o sucesso batendo novamente a sua porta, a marca resolveu expandir seus horizontes e pela primeira vez, abriu uma loja no Brasil, em 2001. A loja está localizada em São Paulo, no Shopping Cidade Jardim.
Evolução da Marca Pucci
A identidade visual da marca também passou por melhorias, até chegar naquela que hoje é a vista por todos nós. O logotipo veio seguindo a modernização da marca, tudo para transmitir uma sensação mais sofisticada e elegante.
É possível você encontrar a aplicação do Brasão da marca também, em especial, em suas bolsas, na parte interna, como assinatura. Afinal de contas, nada melhor do que manter algumas tendências e a impressão da assinatura em cada peça feita é algo que fora mantido, mesmo após a morte do estilista.
Curiosidades sobre a marca
- Você sabia que Emilio Pucci criou, ao todo, mais de mil estampas? Conta-se 20 mil, pra ser mais preciso. E todas elas estão disponíveis para você conhecer no Palácio Pucci, na França.
- Quando tinha 25 anos de idade, a estilista Carolina Herrera começou a trabalhar no setor de relações públicas na tradicional Pucci, na Venezuela.
- Em 2014, a top model número 01 do mundo, Gisele Bündchen fora a estrela eleita para dar vida a nova coleção de Pucci para a campanha outono/inverno.
- A icônica Marilyn Monroe fora enterrada usando um vestido verde clássico de Emilio Pucci.