Entrevista: Michael Kors conta como construiu seu império da moda
Michael Kors é mais máquina do que ser humano. Essa força criativa por trás de uma das marcas mais famosas do mundo voou pelo Atlântico, saindo de Nova York para Londres, e em menos de 24 horas, conseguiu finalizar uma série de entrevistas na mídia e se divertir com o clássico hedonismo britânico em uma festa da jovem aristocracia do país, antes de retornar devidamente aos seus planos de dominação mundial.
A abertura de sua maior loja na Europa (bem no meio da Rua Regent em Londres) faz um ano e, a julgar pelas multidões interessadas, o negócio está claramente crescendo.
A revista Elle conseguiu segurar o mestre alguns minutos para uma entrevista exclusiva sobre suas musas favoritas, sua melhor decisão de negócios e o que ele aprendeu nessas quase quatro décadas de moda.
ELLE: Então, você curtiu a festa?
Michael Kors: A gente se divertiu muito. Londres é a cidade para quem gosta de sair à noite e se divertir. Na verdade, os nova-iorquinos não saem tanto assim. Eles dizem “Bom, eu preciso levar as crianças à escola amanhã…” Ok, desculpe, mas não me importo com isso. Já o pessoal em Londres gosta de se produzir quando saem e isso é ótimo para os Designers.
ELLE: Começaremos com uma questão simples. O que você mais ama no mundo da moda?
MK: Antes de mais nada, eu sou uma pessoa que gosta de lidar com gente. Eu adoro o fato de que não iremos resolver os problemas do mundo com o vestido certo ou uma bolsa linda, mas podemos ver a diferença na postura de uma pessoa quando ela coloca a roupa certa e se olha no espelho com orgulho – ela até entra no ambiente com um andar mais firme. Então, eu amo isso, o fato de poder influenciar como as pessoas se sentem em relação a si mesmas. E quando você se sente bem consigo, você fica de bem com a vida, com a sua família e com o seu trabalho. Eu tive muita sorte. Conheci tantas pessoas incríveis ao redor do mundo, as quais eu jamais teria conhecido de outra forma.
ELLE: Quais as melhores decisões de negócio que você já tomou?
MK: Nossa! Bem, deixar meu emprego e entrar nos negócios. Eu tinha acabado de fazer 22 anos. Muitas pessoas me disseram: “Você não começou cedo demais?” Mas eu era tão impaciente. Eu não terminei a escola; eu comecei meu negócio sem conhecimento dos trâmites do mundo da moda. Eu só sabia o que eu queria desenhar. É desafiador quando você vai aprendendo no caminho – mas estamos sempre aprendendo. Você precisa, digo, mesmo agora, 36 anos mais tarde, algo novo aparece a cada dia no mundo, então, jamais pense que sabe tudo.
ELLE: Algo de que se arrependa?
MK: Acho que não tomei decisões erradas. Mas, às vezes, acho que o momento não era o certo. Talvez a única coisa que eu tenha desenhado que, realmente, não foi uma boa ideia… foi um body para homens (risos). E eu pensei que seria uma ideia super prática, porque eu detesto ter que colocar camisas para dentro da calça o tempo todo, elas amassam e tal. Então, pensei “por que não fazemos uma peça única para homens, anexando camisa e cueca, não seria ótimo?” E chegamos a vender nas lojas. Aí, eu usei uma vez e me senti péssimo (risos). Eram uma desgraça, então eu disse não ao body masculino…
ELLE: Já ouviu falar do macacão masculino?
MK: Ah, o RompHim? Eu não acho que homens deveriam usar macacão, esqueçam isso.
ELLE: Você acredita que ter uma personalidade tão visível e próxima à marca – talvez mais do que seus colegas – deu características únicas ao seu negócio?
MK: Eu creio que, no mundo atual, uma das relações mais pessoais que você pode ter é com quem está lhe vestindo. Podemos ler uma entrevista com um Designer, talvez vejamos uma foto dele, mas nunca saberemos, de fato, quem ele é como pessoa, ou entenderemos o porquê ele desenha o que desenha. E eu nunca fui tímido. Eu sempre tive uma opinião formada (risos). Quando decidi participar do programa de TV [Kors foi juiz de moda no reality show Project Runway], para ser sincero, no início, eu quis recusar. Tive dificuldade com o conceito de reality show aplicado ao mundo da moda, porque acredito que moda seja um trabalho árduo. Jamais iria querer que virasse motivo de piada. Aí, eu pensei: o que os Designers farão nesse show? Eles irão brigar entre eles? Comerão insetos? Estarão isolados em uma ilha? Finalmente, eu disse, ok, tudo bem, vamos tentar. E acabei fazendo 10 temporadas do show. A Debra Messing (de Will & Grace) me disse “estar na TV é algo muito pessoal. Você entra na casa das pessoas, passa um tempo com elas. Cinema é diferente, é na telona.” Então, acho que as pessoas se conectaram e agora elas me conhecem. E estou sempre disposto a tentar coisas novas. Mesmo com mídias sociais, alguns Designers hesitam muito, mas nós temos sido muito proativos nessa área. Eu gosto de me comunicar com meus clientes.
ELLE: Esse é, na verdade, nosso próximo tópico. Como a mídia social está mudando o papel do Designer?
MK: Temos que perceber que o mundo está menor agora. Todos estão bem informados, você não precisa mais estar numa cidade grande para ter acesso à informação. Você pode estar numa cidade pequena ou vilarejo, ou numa fazenda e, ainda assim, se estiver interessado, tudo está disponível para você. Eu gosto desse feedback. E eu não consigo conhecer todo mundo, então, a mídia social é um bom caminho.
ELLE: Porque todo mundo fica muito acessível…
MK: Todo mundo fica mais próximo e tudo bem. Nós observamos como as pessoas reagem quando vestimos uma celebridade. Acabamos de vestir a Priyanka Chopra, e eu recomendei um comprimento mais curto, na canela, algo que ela não havia usado ainda. Quando postamos, todos adoraram! Então, eu pensei “ok, estou no caminho certo. Ainda não fiquei louco.”Além disso, cada tipo de mídia tem interesse de um público diferente. Tenho seguidores de uma variedade de nacionalidades, idades e tamanhos de roupa. Sabe, Snapchat é de uma geração, Facebook é outra, pessoas mais visuais curtem o Instagram… é tudo diferente.
ELLE: Qual o papel da tecnologia no império varejista que você está construindo?
MK: Temos que lembrar que as compras online e na loja física estão se tornando uma experiência simbiótica. Algumas pessoas pesquisam tudo online e, depois, vão para uma loja física comprar o produto. Também conheço consumidores que fazem o oposto disso. Eles observam o produto na loja, mas estão com pressa, então deixam para tomar a decisão no ambiente digital. Por isso, precisamos sempre considerar em oferecer uma experiência 360 aos clientes – que podem estar na India, na Europa, na América do Sul, viajando virtualmente pelo celular, mas também viajando de verdade.
ELLE: Consumo responsável é uma tendência de mercado. Como você acredita que essa filosofia irá afetar a forma como a sua marca trabalha?
MK: Será, gradativamente, mais importante verificar o processo de produção, desde o tecido até o material final, algo que temos feito cada vez mais. Temos realizado esse tipo de questionamento com frequência, com fornecedores têxteis e fabricantes de linha: como conseguimos seguir e rastrear a fonte? É a mesma coisa que fazemos ao comer uma refeição. Mas a indústria alimentícia se adaptou mais rápida e eficientemente do que a da moda.
ELLE: O que você já aprendeu com o consumidor na Índia? O que mais te empolga?
MK: Gosto de um pouco de glamour. Eu acredito que o mercado na Índia tenha como característica uma paixão pela satisfação e exibição. Mas, agora, vemos muitos Indianos viajando pelo mundo, então, é interessante ver como a percepção de consumo de alguns têm encontrado um equilíbrio entre a praticidade e a exuberância. A vida ficou mais corrida, você tem mais coisas para levar, então, como você resolve isso sem perder seu amor pelo glamour e pela extravagância? Isso tem muito a ver com Michael Kors, então, é algo muito positivo para nós.